A melhor crítica contra a construção do autódromo no Rio, tramada por Jair Bolsonaro, é de um carioca apaixonado: o jornalista Artur Xexéo.
É mais um projeto de desperdício de dinheiro público.
Aqui no Rio, os hospitais não dão conta da saúde da população. As escolas não dão conta da educação do povo. A polícia não dá conta da segurança da cidade. Mesmo assim, da noite pro dia, o Governo do Estado descobriu uma nova prioridade para o Rio: abrigar uma corrida do campeonato mundial de Fórmula 1.
É claro que o Rio é uma cidade que tem tudo para sediar prova tão importante. Menos um autódromo. Então, o governo não tem dinheiro pra investir em seus hospitais, não tem dinheiro pra melhorar o salário dos professores, não tem dinheiro para resolver a questão da segurança, mas não vê problemas em arranjar dinheiro para construir um autódromo de categoria internacional.
Agora, me explica, o governo tem um Museu da Imagem e do Som se deteriorando na Praia de Copacabana. Tem um Teatro Villa-Lobos deteriorado na Avenida Princesa Isabel. Tem um Teatro João Caetano precisando urgentemente de uma reforma na Praça Tiradentes. E, mesmo assim, acha que pode construir e manter um autódromo em Deodoro?
Se o Rio não consegue conservar nem a grama do Parque do Flamengo, como vai manter em ordem o novo autódromo? É verdade que o parque é da Prefeitura, e a pista de corridas seria do Estado. Mas em termos de finanças, os dois se igualam. Um é roto, e o outro, esfarrapado.
Já tivemos um autódromo. Há cinco anos, ele ainda estava lá. Abandonado, é verdade. Mas o que não está abandonado nesta cidade? Aí as autoridades concluíram que ele deveria ser substituído por uma série de elefantes brancos que seriam utilizados durante as Olimpíadas. Era uma boa causa. Após os jogos, os elefantes seriam transformados em escolas. Pois bem, o autódromo foi destruído, os elefantes brancos continuaram sendo só elefantes brancos mesmo.
O novo autódromo corre o risco de se tornar um novo Sambódromo. Uma construção gigantesca, que custou caro e só é utilizada uma vez por ano. Na sua concepção original, a passarela definitiva para os desfiles de escolas de samba também seria uma escola, o maior dos Cieps. Nela, os camarotes do carnaval se transformariam em salas de aula. E ainda teria, eventualmente, espetáculos, festas, feiras na Praça da Apoteose, invenção de Darcy Ribeiro, secretário de Cultura da época. A praça foi criada sob polêmica. Alargava a pista no final, desrespeitando a lógica do desfile. Mas Darcy bateu pé. Sonhava ver ali bailes do gênero que ele chamava de mela-cueca. A escola durou alguns anos, a praça recebeu shows internacionais por algum tempo, mas, hoje, o Sambódromo só funciona uma vez por ano.
Os homens que administram o Rio têm vocação para o desperdício. Gostam de obras caras, monumentais e, sempre que possível, mal aproveitadas. Tomara que esse autódromo não vá pra frente. Se o dinheiro está mesmo sobrando, o governador Wilson Witzel tem opções mais produtivas para gastá-lo. É só escolher.
Como todo mundo sabe, eu não vejo mais novela. Mas dona Candoca vê pra mim. Outro dia, ela me mandou um WhatsApp — ela está sempre em dia com novidades informáticas — levantando uma questão que procede: “É impressão minha, ou Claudia Raia roubou a novela das sete?”
Dimenstein: a melhor crítica contra autódromo no Rio é de um carioca publicado primeiro em https://catracalivre.com.br
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