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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Filha adotiva de Damares foi levada de tribo ilegalmente

Damares Alves e sua filha Lulu

Em reportagem de Natália Portinari e Vinicius Sassine, da revista Época, índios da aldeia Kamayurá, localizada no centro da reserva indígena do Xingu, norte do Mato Grosso, afirmaram que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, levou Kajutiti Lulu Kamayurá irregularmente da tribo.

A ministra do governo de Jair Bolsonaro apresenta Lulu, hoje aos 20 anos, como sua filha adotiva. No entanto, Damares já admitiu em entrevista que nunca formalizou a adoção legalmente.

De acordo com os índios, a jovem foi levada quanto tinha 6 anos de idade por uma amiga de Damares, Márcia Suzuki. À época, a mulher usou como pretexto que a criança faria um tratamento dentário na cidade, mas nunca mais voltou para a aldeia.

“Márcia veio na Kuarup [festa tradicional em homenagem aos mortos], olhou os dentes todos estragados [de Lulu] e falou que ia levar para tratar”, relatou Mapulu, pajé kamayurá e irmã do cacique. Damares e sua amiga fundaram a ONG Atini, voltada para assistência da população indígena.

Capa da última edição da revista

Segundo os índios, a mãe biológica da menina não tinha condições de cuidar dela. Por isso, Piracumã, o tio de Lulu, decidiu deixá-la aos cuidados da vó paterna, Tanumakaru. Como a aldeia sofria com escassez de comida e remédios, a criança ficou desnutrida e precisou ser levada por servidores que cuidam da saúde dos indígenas da região.

“Chorei, e Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?”, declarou, em tupi, a avó, hoje quase octogenária. Ela ainda afirmou que não sabia que a neta nunca mais retornaria.

Questionada pela revista, a ministra disse que a família biológica da filha adotiva a visita regularmente e que a jovem retornou ao Xingu para visitas. “Ela deixou o local com a família e jamais perdeu o contato com seus parentes biológicos.” Já os moradores da tribo dizem que a primeira visita de Lulu aconteceu apenas há cerca de dois anos. Damares não respondeu a questão de não ter adotado formalmente a filha.

Para estar de acordo com a lei, a adoção de uma criança indígena precisa passar pelo crivo da Justiça Federal e da Justiça comum. A adoção, guarda ou tutela também depende de autorização da Funai.

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