Se você ainda não se aventurou na cozinha durante a quarentena, muito provavelmente conhece alguém que já o fez. Quando me refiro aqui a se “aventurar”, não estou falando apenas do mero ato de cozinhar algo rotineiro, ou de fazer uma refeição apressada entre um compromisso ou outro do trabalho. Na realidade, refiro-me principalmente à aventura de ir à cozinha e preparar algo que representa para nós não apenas uma simples comida, mas simboliza também um verdadeiro ato de aconchego.
As fotos de bolos e pães espalhadas pela internet são um exemplo desse ato. Preparar aquela receita de bolo que sua mãe ou sua vó faziam quando você era criança, ou se jogar na cozinha nesses dias friozinhos para testar um novo sabor de pão caseiro são formas desse acolhimento.
Com o bolo e o pão quentinhos saindo do forno, quem não se lembrará daquele recado de mãe que nos dizia para tornar cuidado e não comer tudo muito quente, pois poderíamos ficar com dor de barriga? Muitos podem até se recordar do ato de rasgar o pão recém-assado, engolindo-o depressa entre uma brincadeira e outra?
O ato de cozinhar enquanto passatempo e aventura tem enorme potencial de nos aproximar das memórias de bons momentos da nossa vida – emoções que são despertadas em nós, transportando-nos para lembranças longínquas e pouco presentes em nosso cotidiano.
Comer traz junto consigo muitos aspectos, entre os quais culturais e emocionais, que são indissociáveis. É importante entender o papel que a comida tem especialmente em momentos de crise. Por isso, não devemos “nutricionalizar” o ato de comer, reduzindo-o a uma mera reposição energética.
Como já venho refletindo há tempos neste espaço, quando nós nos alimentamos, nós não comemos nutrientes ou calorias, mas sim, comida. E com a comida, comemos também, por meio de seus aromas, texturas e sensações, nossas memórias mais afetivas, resgatando momentos emocionalmente importantes em nossas vidas.
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A disparidade entre a difícil situação que vivemos nos dias de hoje com a quarentena e o poder de acolhimento que temos nas assadeiras untadas de amor e carinho são a maior prova de que a comida pode e deve estar no lugar de afeto em momentos como esse.
Estamos vivendo algo único em nossas vidas. E esse contexto é uma oportunidade de rever sua relação com o comer, debruçar-se sobre os motivadores para esse ato e entender que muitas vezes o alimento simboliza algo muito mais significativo do que um amontoado de ingredientes. Comida também é aconchego.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.
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Aconchego pode ser a justificativa para tantos bolos e pães na quarentena publicado primeiro em https://catracalivre.com.br
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