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domingo, 10 de maio de 2020

Fotógrafo brasileiro percorre rotas da escravidão em busca da memória de seus ancestrais

Para os povos da África Ocidental, a palavra “sankofa” quer dizer “volte e pegue”. Ela é simbolizada por um pássaro com a cabeça voltada para trás, o que representa o retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.

Foi seguindo a filosofia dessa palavra, que o fotógrafo César Fraga e o professor e doutor em história Maurício Barros de Castro percorreram nove cidades da África, seguindo o trajeto das quatro rotas transatlânticas da escravidão –Guiné, Mina, Angola e Moçambique–, por onde cerca de cinco milhões de africanos escravizados atravessaram o Atlântico para movimentar a economia do Brasil Colônia e Império (1530-1888).

Sacerdotisas de Dan, em Abomé, no Benim, em ritual que só acontece a cada 24 anos

A expedição acabou de virar uma série que estreou no começo do mês no canal de TV por assinatura Prime Box Brazil.

Em dez episódios, “Sankofa – A África que Te Habita” também retrata a resistência de grupos regionais para manter a cultura ancestral incorporada à identidade brasileira e apresenta contos mitológicos narrados pela atriz Zezé Motta.

A idealização do roteiro partiu da necessidade de César reencontrar suas raízes.

“O que mais me incomodava é essa ausência de informações da África pré-período escravocrata no Brasil. Ficava me perguntando: e antes do navio negreiro, o que acontecia lá?”, questiona o carioca, neto de escrava.

Celebração na Nigéria; país integrava uma das rotas do tráfico transatlântico de escravos

A cada destino, César registrou vestígios de monumentos, tradições locais e beleza de povos em fotografias, no seu primeiro trabalho profissional nesta linguagem, que virou exposição e ilustrou o livro “Do Outro Lado”, com pesquisa histórica escrita por Mauricio.

Partindo de Fortaleza, o projeto viajou por nove cidades das quatro rotas do tráfico transatlântico: Guiné (Cabo Verde, Guiné-Bissau e Senegal), Mina (Gana, Togo, Benim e Nigéria), Angola e Moçambique.

 O fotógrafo César Fraga

No primeiro episódio da série, César e Maurício explicam as dificuldades de viabilização da viagem, no momento em que o estudo da diáspora africana ganha progressiva relevância mundial.

Maurício contextualiza a inscrição do sítio arqueológico do Cais do Valongo na lista de Patrimônio Mundial da Unesco, oficializada em 2018. Trata-se da maior porta de entrada de escravizados do mundo, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, por onde aproximados um milhão de pessoas passaram.

No Senegal (3º episódio), César e Maurício conhecem a África muçulmana da colorida e contemporânea capital Dakar. Se surpreendem com a beleza e tranquilidade da Ilha de Gorée, rota com menor número de escravos vindos ao Brasil, mas em sua maioria destinados ao Maranhão.

Artesanato do Togo, um dos países visitados na expedição

A cultura africana

As fábulas inseridas em todos os episódios buscam valorizar a cultura oral, transmitida entre gerações como ensinamentos ancestrais que preservam o pensar africano. A história do maior guerreiro do mundo, Ogum, é uma delas.

A falecida Tia Maria, guardiã do Jongo da Serrinha, a Iyalorixá de São João do Mereti (RJ) e a Mãe Menininha de Oxum, são alguns dos personagens entrevistados pela série.

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