É quase impossível conhecer alguém que não tenha seu perfil em alguma rede social. Há alguns anos o comportamento social mudou e não existe escapatória: desde o ato de comprar, que está migrando crescentemente para plataformas digitais, às grandes marcas que substituíram propagandas por posts e artistas que expõem seus trabalhos online, o mundo digital está cada vez mais presente. Existem ainda outras categorias entre os perfis populares nas redes sociais: os influencers e os profissionais de saúde.
Antes de me debruçar sobre esses perfis, porém, permita-me dividir com você minha impressão sobre os meus próprios perfis em redes sociais. Relutei muito até sucumbir aos @s relacionados à minha profissão e ao meu trabalho. Fui encorajada por amigos e familiares a publicar em diferentes plataformas sobre minha abordagem e posicionamentos em relação a nutrição e alimentação. Eles acreditavam que, dessa maneira, mais pessoas poderiam ter acesso a conteúdo de qualidade de maneira ética – algo que sempre fiz questão de honrar. Pois bem, em pouco tempo meu nome passou a estar atrelado aos maiores bancos de usuários, permitindo com que o mundo todo pudesse se conectar a mim através de um simples clique.
A navegação por esse feed sem fim, no entanto, mostrou-se mais perigosa do que eu imaginava. Inicialmente, acreditava que os perfis de pessoas interessadas apenas em navegar e se distrair, eram os mais privilegiados por poderem, na ponta dos dedos, estarem conectados ao mundo. Mas, percebo que essas pessoas são as mais suscetíveis a acessar informações de má qualidade e com enorme potencial para prejudicar não só a autoestima, como a saúde mental.
Já escrevi aqui sobre o perigo da felicidade publicada nas redes, onde fica claro que boa parte dos sorrisos e viagens a Ibiza são estratégias de marketing e resultam em deixar quem acessa os posts infeliz com a vida comum que tem. Por isso, não me alongarei aqui em discutir essa falsa felicidade.
O que me faz escrever novamente sobre as redes sociais é justamente refletir sobre a relação entre perfis e seus seguidores. Influência, segundo o dicionário Michaelis significa, entre outras definições, (1) o poder ou ação que alguém exerce sobre pessoas ou coisas; (2) o poder de influenciar e modificar o pensamento ou o comportamento de outrem sem o uso da força ou da imposição; e (3) o poder ou preponderância sobre outros numa determinada área; prestígio. Ou seja, ser ou querer ser influenciador por meio de redes sociais significa uma enorme responsabilidade perante as demais pessoas.
A partir do momento em que há o cadastro de perfil que pretende ser influenciador sobre outros, seja pela maneira de se vestir, comer, exercitar ou para onde se viaja, por exemplo, é preciso ter consciência do poder que se tem junto aos seguidores.
E isso também é evidente quando pensamos em perfis profissionais: dicas sobre saúde, maneiras de levar uma vida saudável, de se alimentar melhor e até como dormir com mais qualidade são facilmente achadas nas redes sociais. E não há como negar que, também nesse âmbito da saúde, existe, da parte do influenciador, a mesma vontade de influenciar o hábito dos seguidores como faz um influencer de moda.
Por isso, tão importante quanto pensar na figura do influenciador é pensar na figura do seguidor. Mais uma vez, conforme o dicionário Michaelis, seguidor é aquele (1) que segue; continuador; (2) que segue ou vai atrás de alguém ou de algo; perseguidor; (3) que é adepto de um partido, de uma religião, de uma filosofia; partidário, prosélito, sequaz. Ou seja, ser seguidor de alguém também é algo sério. O seguidor é uma pessoa que concorda com aquilo que o influenciador faz ou diz. Seguir um determinado perfil pode dizer mais até sobre o seguidor do que sobre o perfil seguido.
Dessa maneira, é preciso pensar nas duas pontas: o perfil que quer ser influenciador e o perfil influenciado, ou o do seguidor. O vínculo seguidor-perfil seguido representa um enorme vínculo de responsabilidade, de ambas as partes.
Se você é um perfil que tem ou deseja ter muitos seguidores, fica aqui um apelo: poste com ética; entenda que cada like, cada compartilhamento, cada repostagem são mais do que métricas de vaidade; na verdade, são suas ideias sendo divulgadas em uma dimensão gigantesca. A partir do momento em que sua ideia é jogada na rede social, você não tem mais controle sobre ela. Por isso, pense um milhão de vezes antes de publicar algo.
Por outro lado, se você é um perfil que segue, fica também um pedido: aproprie-se do valor que seu like, seu compartilhamento, sua repostagem têm. Seguir algum perfil é um ato que mostra suas ideologias, valores e crenças. Dessa forma, pense um milhão de vezes antes de seguir alguém – e, ao seguir, antes de dar sua aprovação sobre algo que foi dito ou feito pelo influenciador.
Aos inúmeros perfis de profissionais da saúde, nas mais diferentes áreas, mas especialmente no âmbito da nutrição e saúde pública, de onde posso falar com propriedade: por favor, honrem suas atividades online e sejam responsáveis ao postar sobre qualquer coisa.
Encerro então, repetindo algo que disse muito durante a semana que passou, após mais um escândalo entre influencers e a vida real: não tornem famosas pessoas estúpidas.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.
Veja também: O impacto das redes sociais na saúde mental e o que é possível fazer
Quem você segue na rede social e o que isso diz sobre você publicado primeiro em https://catracalivre.com.br
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