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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

‘O pior estereótipo é o da mulher vulgar’, diz musa da Vila Maria

Carolina Ribeiro é musa da escola de samba Unidos de Vila Maria

No Carnaval, o corpo das mulheres e, principalmente, o das negras, é ainda mais hipersexualizado pela sociedade. Essa cultura machista naturaliza situações de assédio sexual, como, por exemplo, contra àquelas que trabalham neste meio e desfilam em escolas de samba.

Para Carolina Ribeiro, musa da Unidos de Vila Maria, o pior estereótipo existente ainda hoje é o de ser a “mulher vulgar”. “Não é a mulher para namorar ou casar, é a mulher com quem eu quero ir para a cama. Isso toda passista sofre. Você ter o perfil de mulher negra, do cabelo cacheado e do corpã, você se torna um objeto. E você estar ali exposta… Eu já vivi situações em que a pessoa ofereceu dinheiro para sair comigo. É desagradável”, afirma ao programa Entrevista por Catraca Livre.

Carolina, que começou a atuar no Carnaval aos 11 anos de idade e já desfilou também pela Tom Maior, conta que é muito comum ser vítima de assédio nos ensaios e desfiles. Segundo ela, a maior parte dos casos vem do público de fora, não de quem trabalha nas escolas de samba.

A pior situação que ela já viveu foi em seu primeiro ano como musa da Vila Maria. “No ensaio técnico no Anhembi, um cara pediu para tirar foto comigo. Quando eu fui tirar a foto, ele desceu a mão e passou na minha bunda. Naquele momento, fiquei sem reação. Uma amiga viu e já foi pra cima do cara, então virou aquela confusão. Essa foi a única vez em que fui tocada”, relata. “Quando se invade a privacidade de uma pessoa, só porque você acha que ela está exposta, eu sou grossa mesmo”, completa.

Carolina começou a atuar no Carnaval aos 11 anos de idade

Em decorrência desses casos de machismo, Carolina diz que já pensou em desistir de desfilar. “Você precisa mudar algumas coisas no seu jeito e na sua personalidade para não sofrer esse tipo de situação. Até você entender que não é culpa sua, eu já pensei muitas vezes em ‘deixar pra lá’.” Ainda de acordo com ela, a diretoria da escola intervém algumas vezes, quando percebe que está passando dos limites.

A união das mulheres contra o machismo e o assédio sexual se tornou mais intensa nos últimos anos, como afirma a musa da Vila Maria. “Falar sobre isso faz com que as pessoas repensem e não se sintam sozinhas. É uma coisa que eu passo, que a minha colega de avenida passa e que a minha colega de outra agremiação passa. Quando a gente começa a expor situações e falar que a gente não precisa passar por isso, eu sinto evolução sim”, ressalta.

Por último, Carolina manda um recado para os foliões que sairão às ruas neste Carnaval: “Mulheres se unam. Observe a colega do lado, se está muito bêbada, ajuda. Se você perceber uma situação desagradável, intervenha, sim, porque somos nós contra esses homens abusivos. E homens também: se vocês estão vendo uma situação, proteja e ajude. Todo mundo precisa se unir contra esse tipo de situação”.

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#CarnavalSemAssédio

Assédio não é paquera, assédio não é normal, reclamar de assédio não é mimimi. Em seu quarto ano, a campanha #CarnavalSemAssédio contará com mais apoios para levar esta mensagem e ajudar a combater a violência contra a mulher.

Parceria da Catraca Livre com a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade, a campanha vai levar os Anjos do Carnaval aos blocos da capital paulistana. A equipe, voluntária e treinada, será responsável por acolher e orientar mulheres e LGBTs vítimas de assédio na dispersão, além de ajudar a identificar assediadores em cima dos trios elétricos de blocos parceiros.

Paralelamente, usaremos o Ônibus Lilás, cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, como ponto fixo de atendimento.

A cada dia do Carnaval (de 2 a 5/3), e também no sábado de pré-Carnaval (23/2), sempre próximo aos blocos com maior concentração de foliões, o Ônibus Lilás estará presente com profissionais capacitados para receber vítimas de assédio.

Também teremos voluntários na distribuição de 20 mil adesivos da campanha por blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE).

Veja também: União das mulheres é transformadora, diz integrante do Não é Não

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