Apesar de o empenho das sociedades médicas e do poder público em informar a população feminina sobre a necessidade de realização da mamografia, o quadro geral no Brasil está longe de ser homogêneo. A última Pesquisa Nacional de Saúde sobre o tema, de 2013, mostra que entre as brasileiras de 50 a 69 anos com instrução superior passam de 80% o percentual das que fizeram mamografia em um período de dois anos.
Entre as mulheres sem instrução ou com nível fundamental incompleto, esse percentual cai para cerca de 50%, e chega a menos de 30% na Região Norte.
Essas desigualdades resultam em uma soma de quase 4 milhões de mulheres – 18,4% da população feminina entre 50 e 69 anos – que nunca realizou o exame. Comparativamente, o maior índice entre as grandes regiões fica novamente com o Norte (37,8%), contra 11,9% do Sudeste, que tem a menor taxa.
Outro levantamento, feito pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), revela que o número de mamografias feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o ano de 2017, foi o menor registrado em um período de cinco anos entre mulheres na faixa etária alvo. Os dados apontam que, entre os 11,5 milhões de exames na rede pública esperados, apenas 2,7 milhões foram realizados, o que representa 23% do total.
Para o oncologista Bruno Ferrari, fundador e Presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas, a distribuição dos equipamentos para realização do exame é certamente um ponto a ser avaliado pelos governos municipais, estaduais e federal, visando ampliar o acesso a toda a sociedade de forma igualitária.
Outro desafio está em vencer o receio em relação à mamografia, em grande parte derivado de boatos que desencorajam e causam pânico às pacientes.
“Apesar de simples e rápido, há muitas mulheres que afirmam temer a dor causada pela máquina no momento da captação das imagens. A tecnologia vem evoluindo ano a ano, o que garante mais conforto no momento do exame. Além disso, o exame não causa qualquer tipo de prejuízo à saúde, pelo contrário, ele é um aliado. Para que a detecção precoce do câncer de mama aconteça, é essencial que estes tabus sejam vencidos”, pontua.
Só o autoexame não é suficiente
Em partes, essa diferença nos percentuais de realização da mamografia também estão ligadas à crença de que o autoexame das mamas é suficiente para a detecção de possíveis nódulos.
“Todas as mulheres a partir dos 18 anos devem fazer o autoexame mensalmente, no primeiro dia após a menstruação. Ele é uma importante ferramenta para as mulheres conhecerem seu próprio corpo, o que é fundamental para que detectem alterações nas mamas, caso ocorram”, afirma o oncologista, apontando que esse é o momento em que o seio está com menos influência dos hormônios do ciclo, o que facilita o toque.
A qualquer alteração que ela sentir, sejam nódulos, mas também mudanças como alguma retração ou líquidos saindo do mamilo, por exemplo, é necessário ir ao mastologista imediatamente.
“Todavia, esse conhecimento do próprio corpo, apesar de imprescindível, não detecta, em geral, nódulos muito pequenos ou em estágio inicial, quando ainda não são palpáveis. Por isso, o autoexame das mamas nunca deve substituir a mamografia, que deve ser realizada anualmente por todas as mulheres acima dos 40 anos”, alerta o oncologista.
Uma revisão acadêmica de ações públicas de controle sobre a doença, intitulada Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil, reforça a fala do especialista. A análise indica que o autoexame das mamas pode provocar efeitos negativos como aumento do número de biópsias de lesões benignas e uma falsa segurança, pois, ao examinar-se, a mulher pode se sentir segura do resultado, excluindo a busca por outros métodos mais confiáveis.
Não à toa, o exame do toque não é considerado como método diagnóstico precoce, embora faça parte integral da discussão sobre o problema na sociedade, uma vez que permite que as mulheres estejam alertas e conscientes sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama.
“A mulher, seja ela de 15 ou 80 anos, precisa se conhecer, ir sempre que possível ao ginecologista, fazer o autoexame e, principalmente, fazer a mamografia anualmente após os 40 anos. As chances de cura chegam a 90% quando o tumor é descoberto no início, sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida e a retomada dessa mulher a sua vida normal”, diz Bruno Ferrari.
Quando realizar mamografia?
A mamografia deve ser realizada anualmente a partir dos 40 anos, considerando que a incidência da doença começa a aumentar consideravelmente a partir desta idade. “O auge de detecções acontece dos 50 aos 60 anos, tidas como as faixas etárias de risco”, afirma Ferrari.
A adesão ao exame precisa, no entanto, ser antecipada entre mulheres com histórico de câncer na família, ou seja, cujas mães, avós ou irmãs tiveram câncer de mama.
Veja também: Câncer de mama: sintomas, prevenção e tratamento
4 milhões de brasileiras entre 50 e 69 anos nunca fizeram mamografia publicado primeiro em https://catracalivre.com.br
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