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sábado, 27 de junho de 2020

Esteticista negra é obrigada a usar saco de lixo em dentista

Um post de Cristiane Boneta viralizou nas redes sociais, na última quinta-feira, 25, após a esteticista acusar de racismo uma clínica particular de odontologia, localizada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Cristiane Boneta registrou momento em que teve de usar saco de lixo em dentista

A moça relatou que teve de usar saco de lixo preto em cima de suas roupas e enrolado em seu cabelo para ser atendida pelo dentista e realizar uma cirurgia na gengiva. Segundo ela, a atendente do cirurgião estabelecimento teve dificuldade para adquirir equipamentos de segurança em meio à pandemia de covid-19, e que estaria usando o plástico como substituto. E pior: disse que a paciente tinha que prender o saco em seu cabelo, pois a touca não caberia em seu cabelo.

“A assistente me entregou os sacos de lixo logo após eu chegar. Pensei que serviriam para colocar minha bolsa e os sapatos, mas ela pediu que eu vestisse e ainda colocou um deles na minha cabeça, porque disse que a touca não comportaria meu cabelo volumoso. Questionei, e ela me respondeu que os equipamentos estavam em falta e eu precisava usar aquilo me proteger. Desde o início eu fiquei sem reação, uma vontade de chorar mesmo, mas eu precisava fazer o procedimento. Quando cheguei na sala de cirurgia eu perguntei para o médico o motivo daquilo, disse que não era certo, mas ele só respondeu que o material estava limpo”, declarou.

No consultório, Cristiane registrou o momento em seu celular, e alertou o médico sobre o procedimento ser inadequado.

“Quando fiz novamente o alerta, destacando que o estabelecimento poderia ser multado, o médico me respondeu que não havia pensado nessa possibilidade. Para ele, por ser um plástico, poderia ser usado para esse fim. Eu também atuo na área da saúde, e acredito que temos que tratar o outro da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. Isso não aconteceu. O saco de lixo só serve pra uma coisa e o nome já diz. Além de não ser adequado, é constrangedor para o paciente. Mesmo que tenha sido um fato isolado, houve constrangimento, houve uma discriminação. Foi ruim”, completou.

Ao jornal Extra, o odontologista Wagner Padilha, um dos responsáveis pela clínica, reconheceu que o material usado não era o adequado, mas disse que foi uma medida adotada de forma temporária por conta da dificuldade de adquirir os equipamentos de proteção.

“Reconheço que não era o ideal. A clínica ficou parada por quatro meses por conta da pandemia e tivemos dificuldade para adquirir os EPIs. Estão em falta em muitas lojas e os preços estão quase impraticáveis. Eu já estava paramentado quando a paciente chegou na sala de cirurgia. Como ela disse que se sentiu constrangida, poderia ter optado por não fazer o procedimento, não teríamos problema nenhum com isso. Mas foi a solução de emergência que encontramos para uma proteção cruzada, já que eu também faço parte do grupo de risco. O corpo e o cabelo tiveram o menor contato possível com o ambiente, para diminuir qualquer risco de contaminação. Pedi desculpas quando ela me alertou sobre, já no final do procedimento. Dei razão à ela e decidimos procurar outra solução. Tenho 68 anos, 37 anos de profissão, e jamais faria intencionalmente algo para constranger ou colocar em risco o paciente. Espero que a situação seja resolvida da melhor forma possível”, afirmou.

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CARTA ABERTA . Meu nome é Cristiane Boneta, sou esteticista trabalho com atendimento ao público desde minha infância e com saúde a 12 anos. Ontem me submeti a segunda parte da minha cirurgia de gengiva (Gengivoplastia). Devido a todas as circustância que estamos vivendo e com foco na biossegurança o que nos assegura a integridade do profissional e do paciente a minha integridade foi bruscamente violada. Realmente não sei definir se foi racismo ou descanso, mais como profissional da saúde certo eu sei que nao está. Escrevo esta carta aberta devido a grande repercussão que este caso está tendo, eu realmente não imaginava tamanha proporção de pessoas do Brasil e fora Brasil, não estou aqui para aparecer minha forma de me expor é outra, e o meu trabalho fala por mim, mas em respeito a toda solidariedade e apoio eu não posso me calar . Então ontem para fazer o procedimento da cirugia eu tive que vestir SACOS DE LIXO na cabeça (segunda a auxiliar: meu cabelo é muito grande e a touca não comporta ) e no corpo para proteger o profissional que iria me atender. Em um ato de desespero e a única arma que eu tenho é o celular eu comecei a registrar tudo, porque se eu simplesmente te contasse você não iria acreditar, me sentir muito constrangida com a situação e não parava de chorar em todo os procedimento não por causa do procedimento mas por causa da situação que ali se passava. Ao entrar no Consutorio eu questionei com o dentista sobre o saco de lixo e a reposta dele é que o saco estava limpo. Como precisava muito finalizar essa cirurgia eu acabei me submetendo a essa situação. Não tive forças para dizer não e não tive forças para sair dali. Mas consegui registrar boa parte do que aconteceu. Quando acontece com agente é sempre mais complicado de reagir. É muito estranho um profissional fica dizendo aos quatro cantos que tem 37 anos de profissão e não conhecer as normas básicas de biossegurança, até para alguns resíduos especiais existe saco plástico específico para armazenamento. Nas fotos segue o CRO do mesmo (para quem tinha pedido) Quero agradecer imenso carinho de todos e vou deixar os vídeos e fotos para que vocês então melhor.

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Racismo: saiba como denunciar

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Saiba mais como denunciar e o que fazer em caso de racismo e preconceito neste link.

Veja também: Medalha britânica carrega desenho racista idêntico ao Caso George Floyd

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